Uma igreja avivada é aquela que tem plena consciência de si, de seu lugar, de seu porquê, de seu sentido de existência. Quando uma pessoa se desperta do sono após um sonho marcante ela tem uma experiência vibrante de saber diferenciar o sonho da realidade. Quando a potente força da vigília nos convoca para o real, o sono perde espaço e um mundo de oportunidades se apresenta diante de nós nos revelando nitidamente a certeza do "si mesmo", como ser capaz de tomar decisões livres que desafiam os limites estabelecidos pela razão.
A decisão de sonhar com uma igreja verdadeiramente avivada, no nível do espírito, consciente de sua natureza e de sua condição de mudança, não pode ceder a variação do tempo e espaço, que se manifestam como forças que aparentemente lutam contra nós, mas que, em verdade, são dons divinos para seus verdadeiros filhos.
O sonho é um estado de espírito que se apresenta naturalmente a todas as pessoas como um "parênteses" dentro do sono e da inatividade. Enquanto estamos dormindo, corpo, alma e espírito aguardam pacientemente o "baixar da poeira" das experiências vivenciadas durante a vigília. Neste momento, o sonho, de início, não se apresenta como sonho, mas como realidade no nível da mente, com um nível diferenciado de possibilidades, de limites e de coragem para avançar além de uma incredulidade medíocre. Neste ínterim, o espírito, que tem livre acesso a memória, é o único que não pode ser tocado.
O sonho do avivamento só ocorre no nível do espírito, pois este é o único estado que pode permanecer inalterado antes e depois do sono. A decisão de continuar sonhando após despertado do sono pode permanecer e depende de um estado de consciência de "si mesmo" que despertou para sua própria existência e é capaz de manter-se imune diante dos apelos do corpo e da alma.
Não é a toa que o apóstolo Paulo, aproxima o conceito do sono à morte, quando se refere àqueles que já partiram desta vida, "não quero, porém irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que dormem " (1Ts 4.13). Isto porque há muitos que passam a vida toda dormindo, sendo assim inoperantes. Parece uma contradição, mas "vivem mortos", pois nunca decidem despertar no espírito para a verdadeira vida que Deus propõe.
Jesus vivia despertando seus discípulos no nível do espírito para permanecer sonhando, mesmo acordados. O nível de avivamento de uma pessoa depende de sua capacidade de continuar sonhando mesmo tendo a certeza de não estar dormindo. A falta de consciência de "estar aqui", no "agora", envia a pessoa a um modo de existência que está de mãos dadas com a fantasia e a improdutividade. A fantasia está relacionada a realizações pessoais, a desejos egoístas que visam satisfação de necessidades e impulsos imediatos. A fantasia está ligada a alienação improdutiva. é a falta de significado e de propósito que estimula o ser a buscar manifestar as idealizações intrínsecas da alma e do corpo que se apresentam como objeto de desejo e realização. A fantasia tem vida curta, não tem força o suficiente para perseverar. É como o vapor que surge e logo se esvai sem deixar rastro nem significado. Serve como entretenimento para alma, mas não alimenta o espírito.
Jesus alimentava seus discípulos com sonhos. Não estava preso ao presente e nem era refém do passado. Mesmo quando dormia, estava mais atento que os aparentemente despertos (Mc 4.38). Mesmo seu cálice mais amargo tornava-se seu propósito mais nobre, pois cumpria sua finalidade no nível do sonho. O sonho do avivamento é a continuidade do sonho vivo do Messias que sempre convocou seus discípulos para viverem despertados para os sonhos.
Rodrigo Walicoski Carvalho
